21/02/2009

Antes do fim

Namoros costumam terminar pela iniciativa de um dos dois, pelo desamor de um dos dois, e dá-se rápido. Na segunda-feira o cara se dá conta de que não está mais a fim e, alguns dias depois, rompe. Mas casamentos não terminam assim tão fácil. O desamor, o "não estar a fim", é constatado de uma maneira mais lenta e dolorosa. E o investimento todo que se fez, afetivo, financeiro e social? O que fazer com os filhos, como reconstruir a vida sozinho depois de tanto tempo acostumado a ser uma equipe? São indagações que ficam dias, meses, às vezes até anos sendo remoídas. O tempo, no entanto, não cessa de passar, e a gente vai adiando a decisão: quando percebe, o respeito pelo outro já não existe, as brigas tomam conta e a situação fica insustentável. A corda arrebenta. Separam-se. E por causa da demora desse desfecho, o que sobra são duas pessoas que já não conseguem ouvir a voz uma da outra, que aniquilaram com qualquer possibilidade de camaradagem dali pra frente.

É por tudo isso que o personagem da atriz Suzana Vieira na novela Mulheres Apaixonadas recomendou a uma amiga, muitos capítulos atrás: "Se você não está feliz, separe-se logo. Acabe com esta relação enquanto ainda existe algum resquício de amor, acabe antes que vocês se odeiem e não possam nunca mais trocar duas palavras". Quem diria, filosofia de novela. Mas esta foi na mosca.

Eu sou a primeira a defender a paciência como virtude. A achar triste que as pessoas desistam tão rápido de seus sonhos, que não tentem um pouco mais. Mas existe um limite - tênue, quase imperceptível - que separa aquilo que a gente pode suportar daquilo que não pode. O ódio, o desprezo e a indiferença nos tornam amargos. Se uma relação está caminhando pro fim, mas ainda não chegou no momento crítico (o de tornar você amargo), talvez seja uma boa alternativa terminar antes de um confronto excessivamente agressivo. Ganha-se tempo para reestruturar a vida e ainda preserva-se a amizade e o carinho do outro. Para isso, basta não testar a resistência da corda. No cabos-de-guerra, ambos caem no final. É melhor desistir antes, enquanto os dois ainda podem sair caminhando e confiantes de que um dia irão rir disso tudo.

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