15/04/2009

O que Os Outros vão pensar?

É admirável o esforço que os meios de comunicação estão fazendo para
conscientizar a sociedade sobre a importância de proteger as crianças.
Mas, pra ser franca, quando eu era pequena não tinha medo nenhum de
bicho-papão, mula-sem-cabeça ou de bruxa malvada. Quem me aterrorizava era outro
tipo de monstro. Eles atacavam em bando. Chamavam-se "Os Outros".
Nada podia ser mais danoso que Os Outros. As crianças acordavam de
manhã já pensando neles. Quer dizer, as crianças não: as mamães.
Era com Os Outros que elas nos ameaçavam caso não nos
comportássemos direito. Se não estudássemos, Os Outros nos
chamariam de burros. Se não fôssemos amigos de toda a classe, os
Outros nos apelidariam de bicho-do-mato. Se não emprestássemos
nossos brinquedos, Os Outros nunca mais brincariam conosco.
E o pior é que as mães não mantinham a lógica do seu pensamento.
"Mas mãe, todo mundo dorme na casa dos amigos" "Eu lá quero saber dos
Outros? Só me interessa você!" Era de pirar a cabeça de qualquer
um. Não víamos a hora de crescer para nos vermos livres daquela
perseguição.
Veio a adolescência, e que desespero: descobrimos que os Outros
estavam mais fortes do que nunca, ávidos por liquidar com nossa reputação."Você
vai na festa com esta calça toda furada? O que Os Outros vão dizer?" "Filha
minha não viaja sozinha com o namorado, não vou deixar que vire comentário
na boca dos Outros".
Não tinha escapatória: aos poucos fomos descobrindo que Os Outros
habitavam o planeta inteiro, estavam de olho em todas as nossas
ações, prontos para criticar nossas atitudes e ferrar com nossa
felicidade.
Hoje eles já não nos assustam tanto. Passamos por poucas e boas e, no
final das contas, a opinião deles não mudou o rumo da nossa história. Mas
ninguém em sã consciência pode se considerar totalmente indiferente a eles. Os
Outros ainda dizem horrores de nós. Ainda têm o poder de nos
etiquetar, denos estigmatizar. A gente bem que tenta não levá-los a sério, mas
sempre que bate uma vontade de entregar os pontos ou de chorar no meio de uma
discussão, pensamos: "Não vou dar este gostinho para Os Outros".

*Martha Medeiros

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