Da queda
um passo de dança.
-
Fernando Sabino
A queda, que se transformou em dança clássica, aconteceu na convenção
estadual da Associação Cultural Nova Acrópole, realizada em Caxias do Sul, nos
dias 24 e 25/09/2011, no hotel Samuara, localizado no meio do mato, junto à
natureza.
Foram dois dias inesquecíveis. Dias únicos,
onde a água, a terra, o ar e o sol se harmonizaram para embelezar nosso
encontro. Um acontecimento ímpar, que conteve, inclusive, palestras de alto
nível, conduzidas num clima de descontração, amizade e alegria. O que serviu,
com certeza, para fortalecer nossos ideais acropolitanos.
A organização do evento foi uma
lição de boa ordem, com destaque para as apresentações artísticas, onde nossa
delegação brilhou com as participações talentosas de nossos poetas, músicos,
cantores, declamadores e... dançarinos. Um sucesso!
Não menos brilhante foi, também, o show
particular que assistimos, em circunstâncias meramente casuais. Pois o acaso,
por vezes, nos proporciona um espetáculo pitoresco, encantador. E foi o que
aconteceu naquela tarde linda, enquanto aguardávamos a chegada do ônibus que
nos traria de volta para São Leopoldo.
Uns acreditam que tudo começou com
uma queda. E que a protagonista, ao cair, conseguiu disfarçar o incidente com muita
habilidade, transformando-o em uma dança clássica. Outros já dizem que foi uma
apresentação espontânea, realizada por quem conhece perfeitamente as técnicas e
os movimentos básicos do balé clássico.
O cenário não poderia ser melhor. No
fundo, o mato denso. Em cima, sobre as árvores mais altas, o amarelo do sol
resplandecendo, sob um azul-celeste profundo e calmo. À nossa frente, um palco
verde formado por uma grama bem cuidada. E foi ali, justamente ali, que, sem
que ninguém esperasse, surgiu, subindo a escadaria que divide o mato com o
pátio, aquela jovem elegantemente vestida. Vinha sem pressa, aparecendo aos
poucos para a platéia. Súbito, a queda!
Justo quando ela vencia o último degrau da escadaria. Cai de corpo inteiro no
gramado e parece ficar desmaiada. Já nos preparávamos para socorrê-la quando,
de repente, nossa “Bela Adormecida” desperta. Levanta-se e, com a maior
naturalidade, entra em cena dando seqüência aos movimentos de braços e pernas
que fez quando tocou o chão.
Mesmo sem uma orquestra musical
materializada, lá vinha ela dançando em nossa direção, alternando movimentos
bruscos e suaves, cheia de sutilezas e musicalidade, elegância e graça,
marcando, com a ginga do corpo, o compasso de uma música imaginária.
Quando chegou até nós perguntou,
entre apreensiva e divertida:
- Vocês viram?
- Gostei, foi muito lindo, comentou a Madalena.
- E tu, Valéria, viste?
- Adorei
- E tu, Aderbal?
- Não vi nada.
- A Marici nem esperou que a pergunta lhe fosse
dirigida:
- Eu vi. Vi tudo!
- Como assim?
Numa demonstração de que sabe tudo sobre
dança, a Marici, com aqueles olhos atentos que tudo vê e tudo registra, foi
logo dando detalhes da coreografia:
- Foste de uma leveza incrível; de
uma técnica muito apurada; de movimentos acrobáticos hábeis e precisos. Tua
espontaneidade de gestos foi surpreendente! Conseguiste o máximo em autodisciplina
e harmonia. Foi uma bela apresentação! Meus parabéns.
Por Aderbal Farias Saldanha.
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