05/05/2009

Ser do todo mundo....ou não ser de ninguém!?

Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, levanta os
braços, sorri e dispara: "eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo
mundo é meu também". No entanto, passado o efeito do uísque com energético e
dos beijos descompromissados, os adeptos da geração "tribalista" se dirigem
aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e
reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição.
A maioria não quer ser de ninguém, mas que quer que alguém seja seu.

Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver
rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas
por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da
velha lição ensinada no colégio, onde "toda ação tem uma reação". Agir como
tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida. Não dá,
infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua,
namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo
todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o
famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois
de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver
beijando outra, etc, etc, etc.

Embora já saibam namorar, "os tribalistas" não namoram. Ficar, também é
coisa do passado. A palavra de ordem hoje é "namorix". A pessoa pode ter um,
dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por
seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que
não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se
queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra
deve fingir que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando
foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança?

A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais.
Assim como só deseja "a cereja do bolo tribal", enxerga somente o lado
negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir um
filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate
quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e
a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além
das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para
dizer boa noite, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas,
transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para
chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter alguém para amar.

Já dizia o poeta que "amar se aprende amando" e se seguirmos seu
raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas:
relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos
últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram
pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia
de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de
frustrações futuras. Talvez seja por isso que pronunciar a palavra "namoro"
traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito
diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior
liberdade e não somos mais obrigados a "comer sal junto até morrer". Não se
trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos
acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis
por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam.
A questão não é causal, mas quem sabe correlacional.

Podemos aprender amar se relacionando. Trocando experiências, afetos,
conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram
passados. Somos livres para optarmos. E ser livre não é beijar na boca e não
ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um
sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É
doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida
possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria
e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins.

Ser de todo mundo, não ser de ninguém, é o mesmo que não ter ninguém
também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao
fracasso emocional e à tão temida solidão.

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